Os Tipos Mais Comuns de Cardiopatias Congênitas e Como São Tratados
- Dr. Paulo Prates Cirurgia Cardiovascular

- 5 de nov.
- 5 min de leitura
Receber o diagnóstico de uma cardiopatia congênita no filho, neto ou mesmo durante a gestação é um dos momentos mais desafiadores que uma família pode enfrentar. Como cirurgião cardiovascular, eu, Dr. Paulo Prates, já estive ao lado de muitas famílias nessas horas difíceis — e também nos momentos de superação, quando o conhecimento certo e o tratamento adequado transformam medo em alívio.
Neste artigo, quero te explicar, com clareza e responsabilidade, quais são os tipos mais comuns de cardiopatias congênitas, como são diagnosticadas, o que esperar de cada uma e quais tratamentos são indicados para cada caso.
O Que São Cardiopatias Congênitas?
Antes de tudo, vale esclarecer: cardiopatia congênita é qualquer alteração na estrutura ou funcionamento do coração presente desde o nascimento. Essas alterações surgem nas primeiras semanas da gestação, enquanto o coração do bebê está se formando.
Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cardiologia, cerca de 1 em cada 100 bebês nasce com algum tipo de cardiopatia congênita. A boa notícia é que, com o avanço da medicina, a maioria dessas condições pode ser tratada com sucesso.
Causas: Por Que Elas Acontecem?
As causas nem sempre são claras, mas incluem:
Fatores genéticos ou hereditários
Síndromes genéticas (como Síndrome de Down)
Exposição a medicamentos ou infecções na gravidez
Diabetes descompensado na mãe
Alterações cromossômicas aleatórias
E, acima de tudo, é importante dizer: a culpa nunca é da mãe. Na imensa maioria dos casos, não há nada que pudesse ter sido feito de forma diferente.
Quais São os Tipos Mais Comuns de Cardiopatias Congênitas?
Vamos agora ao ponto central. Abaixo, explico de forma acessível os principais tipos de cardiopatias congênitas, seus sintomas e formas de tratamento.
1. Comunicação Interventricular (CIV)
A CIV é uma abertura anormal na parede que separa os dois ventrículos do coração. É a cardiopatia mais comum no Brasil e no mundo.
Sintomas:
Sopros cardíacos audíveis no exame
Dificuldade para ganhar peso
Cansaço ao mamar
Sudorese intensa
Tratamento:
Em casos pequenos, a CIV pode fechar sozinha.
Se o defeito for grande, a cirurgia corretiva é indicada, normalmente entre os 3 e 12 meses de vida.
2. Comunicação Interatrial (CIA)
Semelhante à CIV, mas o orifício está entre os átrios (as câmaras superiores do coração).
Sintomas:
Em muitos casos, é assintomática por anos
Em casos maiores, pode causar cansaço e infecções respiratórias de repetição
Tratamento:
Pode ser fechada por cateterismo com prótese em casos selecionados
Em outras situações, o fechamento cirúrgico é necessário
3. Persistência do Canal Arterial (PCA)
O canal arterial é um vaso normal no feto, que deve fechar após o nascimento. Se isso não acontece, o sangue circula de forma anormal entre a aorta e a artéria pulmonar.
Sintomas:
Respiração acelerada
Sudorese
Dificuldade para se alimentar
Atraso no crescimento
Tratamento:
Em prematuros, pode fechar com medicamentos
Em bebês maiores, é necessário cateterismo ou cirurgia para o fechamento
4. Tetralogia de Fallot
Cardiopatia complexa que combina quatro alterações estruturais no coração, incluindo a estenose da artéria pulmonar e defeito no septo ventricular.
Sintomas:
Coloração roxa nos lábios e unhas (cianose)
Crises de falta de ar
Irritabilidade
Cansaço extremo
Tratamento:
É uma cardiopatia que exige cirurgia corretiva completa, geralmente entre 6 e 12 meses de idade.
Em casos mais graves, uma cirurgia paliativa pode ser feita antes
5. Coarctação da Aorta
Estreitamento da principal artéria que leva sangue para o corpo (aorta), dificultando o fluxo sanguíneo.
Sintomas:
Pressão alta nos braços e baixa nas pernas
Pulsos fracos nos membros inferiores
Irritabilidade e dificuldade de mamar em recém-nascidos
Tratamento:
Pode ser tratada com angioplastia (cateter com balão) ou cirurgia aberta para correção do estreitamento
6. Transposição das Grandes Artérias (TGA)
Uma das cardiopatias congênitas mais graves. Nessa condição, as artérias estão "trocadas", fazendo com que o sangue rico em oxigênio não chegue ao corpo.
Sintomas:
Cianose profunda já nas primeiras horas de vida
Respiração rápida
Dificuldade para se alimentar
Tratamento:
Requer cirurgia corretiva nos primeiros dias de vida (cirurgia de Jatene)
Antes disso, pode ser necessário um procedimento paliativo para manter o bebê oxigenado
7. Atresia Tricúspide
Ausência da válvula tricúspide, impedindo o sangue de circular corretamente pelos compartimentos do coração.
Sintomas:
Cianose
Falta de ar
Cansaço extremo
Tratamento:
Requer uma série de cirurgias em etapas
A primeira costuma ser feita ainda nas primeiras semanas de vida
8. Síndrome do Coração Esquerdo Hipoplásico
O lado esquerdo do coração não se desenvolve adequadamente. É uma das cardiopatias mais críticas.
Sintomas:
Grave insuficiência circulatória logo após o nascimento
Pele fria, pulso fraco, cianose
Tratamento:
Exige cirurgias paliativas complexas em etapas
Em alguns casos, o transplante cardíaco pode ser considerado
Como as Cardiopatias São Diagnosticadas?
Existem três momentos principais:
Durante a gestação, com o ecocardiograma fetal — um exame fundamental, especialmente quando há fatores de risco
Ao nascimento, por meio do teste do coraçãozinho (oximetria de pulso) e escuta de sopros
Nos primeiros meses de vida, quando surgem sintomas como cansaço ao mamar, sudorese ou cianose
O diagnóstico precoce aumenta significativamente as chances de sucesso do tratamento.
Quais Exames São Utilizados?
Ecocardiograma transtorácico
Eletrocardiograma (ECG)
Raio-X de tórax
Cateterismo cardíaco (em casos mais complexos)
Ressonância magnética cardíaca
Esses exames ajudam a definir a anatomia e a função do coração com precisão.
Qual é o Tratamento para as Cardiopatias Congênitas?
O tratamento pode ser clínico ou cirúrgico, dependendo do tipo e gravidade da cardiopatia.
Tratamento Clínico:
Controle de sintomas com medicamentos
Acompanhamento com cardiologista pediátrico
Avaliação periódica com ecocardiogramas
Tratamento Cirúrgico:
Cirurgias corretivas, que eliminam o defeito
Cirurgias paliativas, que melhoram a circulação até que o bebê possa ser operado novamente
Procedimentos por cateterismo, cada vez mais usados em cardiopatias menos complexas
Crianças Com Cardiopatias Podem Levar Uma Vida Normal?
Em muitos casos, sim.
Com diagnóstico precoce, cirurgia no tempo certo e acompanhamento contínuo, é possível:
Frequentar escola normalmente
Praticar atividades físicas (com orientação)
Ter vida social ativa
Crescer e se desenvolver com autonomia
O segredo está em tratar o mais cedo possível e manter o acompanhamento por toda a infância e adolescência.
Como é o Acompanhamento Depois da Cirurgia?
Após a cirurgia, os cuidados incluem:
Monitoramento em UTI pediátrica
Uso de medicações temporárias
Consultas regulares com cardiologista pediátrico
Ecocardiogramas e outros exames de controle
Reabilitação com fisioterapia e fonoaudiologia, se necessário
Muitas vezes, o acompanhamento se estende até a vida adulta — por isso, falo com os pais que “o sucesso da cirurgia é só o começo.”
Conclusão: Conhecimento É o Primeiro Passo para o Cuidado
Se você recebeu o diagnóstico de uma cardiopatia congênita no seu filho ou familiar, saiba que não está sozinho.
A medicina atual oferece diagnósticos cada vez mais precoces e tratamentos cada vez mais eficazes. O mais importante é contar com uma equipe especializada, manter o acompanhamento e buscar informação de qualidade.
Eu, Dr. Paulo Prates, dedico minha prática médica a oferecer clareza, acolhimento e excelência técnica para famílias que enfrentam esse desafio.
Estamos aqui para ajudar. Com o coração e pela vida.
Perguntas Frequentes sobre Cardiopatias Congênitas
1. Toda cardiopatia congênita exige cirurgia?
Não. Algumas se resolvem sozinhas ou são acompanhadas apenas com medicações. Outras exigem cirurgia precoce.
2. Como saber se o meu filho tem uma cardiopatia?
Os sinais de alerta incluem cansaço ao mamar, suor excessivo, coloração arroxeada nos lábios e dificuldade para ganhar peso.
3. É possível detectar ainda na gravidez?
Sim, com o ecocardiograma fetal, geralmente feito entre 24 e 28 semanas de gestação.
4. As cardiopatias congênitas têm cura?
Algumas sim, especialmente quando tratadas cirurgicamente no tempo certo. Outras exigem acompanhamento por toda a vida, mas com boa qualidade de vida.
5. Como escolher a equipe médica para tratar a cardiopatia do meu filho?
Busque referências, pergunte sobre a experiência com cardiopatias infantis, questione sobre a estrutura hospitalar e a abordagem multidisciplinar. Confiança, clareza e especialização são fundamentais.



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